“Hoje eu gosto mais de criar cavalos”, afirma o jornalista Hermano Henning

Caroline Campos
7 min readMar 29, 2021

Entrevista realizada originalmente no dia 4 de junho de 2019

Na terça-feira do dia 4 de junho, em entrevista exclusiva na sede da TV Guarulhos, onde apresenta o telejornal diário “Espalha Fatos”, na cidade de Guarulhos — SP, Hermano Antônio Henning, de 73 anos, surpreende ao afirmar: “Hoje eu gosto mais de criar cavalos”.

Jornalista desde 1964, período em que o Brasil entrava em uma ditadura militar, Hermano possui uma extensa carreira, com passagens pela Rede Globo, como correspondente internacional, e pelo SBT, como âncora.

Nascido em Guararapes, interior de São Paulo, ele cursou Direito na Faculdade de Direito de Guarulhos, em 1969, porém nunca exerceu a profissão, sendo desde sempre um apaixonado pelo jornalismo.

Receptivo e bem-humorado, Henning comentou sobre o início da carreira, a adaptação às novas tecnologias no meio jornalístico, assim como o problema das fake news e a importância da formação acadêmica. Ao final da entrevista, ainda deixou um conselho aos futuros jornalistas.

  • Como ocorreu seu primeiro contato com a profissão?

HERMANO HENNING: Em 1965, eu vim para Guarulhos fazer o curso de Direito na faculdade, mas não existia faculdade ainda, enfim, comecei a faculdade no ano de 1969. Eu vim e trabalhei na rádio, que funcionava na rua D. Pedro II, era a Rádio Difusora de Guarulhos. Depois ela foi comprada pela organização André Luís, uma organização espírita, e mudou para o Picanço, e mudou de nome também, virou rádio Boa Nova. Foi aí que eu comecei na profissão, basicamente foi aí. Logo depois, eu fui correspondente do jornal Estado de São Paulo, aqui em Guarulhos, e aí nós fundamos o GuaruNews, que depois de um tempo se transformou em Folha Metropolitana, que existe até hoje.

  • O que levou um advogado a se apaixonar pelo jornalismo?

HENNING: Eu não cheguei a ser advogado, porque quando estudante eu já trabalhava como repórter, né. Então eu me formei, sabe, eu não tinha muita intenção de advogar não. Na minha época, para ser jornalista, a gente fazia dois cursos básicos, ia estudar História, Filosofia, Direito. O curso de jornalismo ainda não era tão conhecido, embora já tivesse curso de Jornalismo. Aí eu fiz até o vestibular para jornalismo, quando eu era estudante de Direito aqui em Guarulhos, na Cásper Líbero. Eu passei, estudei o 1º ano na Cásper Líbero no curso de Jornalismo, mas aí saiu meu registro profissional, aliás o registro profissional eu consegui pelo GuaruNews, atual Folha Metropolitana. Então não tinha mais sentido eu continuar o curso, eu já tinha um registro no Ministério do Trabalho. Então eu não sou formado em jornalismo, mas o curso de Direito eu terminei.

  • E como que surgiu a paixão pela área?

HENNING: Ah, a paixão, eu não sei como ela surgiu não. Eu tinha vontade de trabalhar em rádio, e aí depois a imprensa escrita acabou entrando no meu caminho assim meio sem querer. Mas aí eu achei que essa devia ser minha profissão e nunca tive problemas assim de escolher, de fazer teste vocacional, nunca pensei nisso. Desde adolescente eu achava que ser jornalista era uma coisa bacana, sabe, “vou ser jornalista, vou ser jornalista”, e nunca pensei em ser outra coisa na vida.

  • De lá para cá, do início da sua formação, que tipo de mudança você vê no jornalismo?

HENNING: Mudou tudo, principalmente na televisão. Quando eu comecei em televisão, eu comecei em televisão no ano de 1977, quando eu fui trabalhar na rádio da Alemanha, a Voz da Alemanha, fui trabalhar em colônia, aí fui convidado a fazer umas matérias pra TV Globo aqui de São Paulo. Mas dessa época a transformação foi total para hoje, dos anos 70 para hoje, principalmente a transferência do filme, a gente trabalhava com filme de cinema, fazia as reportagens com filme de cinema, aí depois que entrou a imagem eletrônica, o sistema eletrônico, as câmeras de TV, as câmeras de vídeo, né, então eu acompanhei essa transformação do cinema para o vídeo. O vídeo, ele é a televisão em si, até porque a televisão no início usou o cinema para transmitir imagens, então eu ainda peguei o finzinho dessa época. Então a transformação é total, hoje, com as redes sociais, aí não precisa nem falar, né. A profissão se transformou completamente.

  • Você enxerga um amadurecimento da imprensa?

HENNING: Eu acho que não, que ela é basicamente a mesma do século passado, dos anos 70. Eu acho que quanto a isso, não. Eu acho que ela se adaptou aos novos meios de comunicação, o rádio acabou se transformando, o rádio está se transformando em televisão agora, o chamando “rádio com imagens”. Mas esse amadurecimento pessoal do jornalista, ele já era amplamente reconhecido, desde o começo da minha profissão.

  • Onde que a imprensa tem pecado?

HENNING: Eu acho que a imprensa não tem pecado não. Não vejo, sabe. A apuração, o cuidado, eu acho que a imprensa brasileira hoje pode ser considerada uma das mais preparadas do mundo, principalmente a imprensa escrita. Os grandes jornais são feitos por grandes jornalistas, né. Então eu não vejo pecado.

  • Você já trabalhou em diversos meios: TV, rádio, jornal…

HENNING: É, eu comecei em rádio, depois fui para o jornalismo escrito, e depois a televisão. Televisão aconteceu em meados da minha carreira, no meio da minha carreira, e me acompanha até hoje. A única coisa que eu faço na imprensa escrita hoje é um artigo diário para um jornal local, aqui em Guarulhos, chamado ‘Coluna Livre’, uma coluna diária para um jornal que eu gosto muito de fazer. Mas eu trabalhei nos 3 meios de comunicação mais importantes, mais reconhecidos, que é o falado, o rádio, o impresso, que são os jornais, trabalhei na revista Veja também, mas é um veículo impresso naturalmente, e a televisão.

  • Você tem algum preferido?

HENNING: Televisão.

  • E em relação a rotina de cada um, a rotina profissional mesmo, em que elas diferem?

HENNING: Não tem diferença, não. Eu não vejo muita. Em televisão você escreve pouco, mas tem que escrever bem. Um redator de televisão ele tem um modelo, sabe, começar a trabalhar na imprensa escrita que favorece para você escrever rápido e escrever bem, e você pode explicar a notícia. Na televisão, você tem que resumir a notícia, e as vezes é mais difícil… as vezes é mais difícil você fazer uma reportagem pequena, curta e grossa do que realmente fazer uma coisa extensa, se estender.

  • Você acha que a tecnologia veio para ajudar?

HENNING: Eu acho. Eu acho que veio para ajudar e facilitar nosso trabalho.

  • Ela interfere no dia-a-dia?

HENNING: Não, eu acho que não. Pode até deixar o repórter um pouco preguiçoso, né, mas eu acho que o mesmo profissional da época que eu comecei, dos anos 70 para cá, ele tem que ter uma só preocupação, dignidade no exercício da profissão.

  • Sobre os profissionais da sua geração, você acha que todos se adaptaram bem a essa mudança?

HENNING: Os da minha geração não muito. Eu pessoalmente não me adaptei muito. Eu leio jornal impresso até hoje, eu não abro mão. E não sou um frequentador das redes sociais, eu acho que a minha geração tem um pouco de dificuldade para aderir essa nova tecnologia de comunicação que surgiu nesses últimos tempos.

  • O meio impresso está sobrevivendo bem a internet ou tem uma tendência a desaparecer?

HENNING: Eu acho que a Internet está evoluindo e avançando sobre o meio impresso. Você vê pela tiragem dos jornais, diminuiu muito. A tiragem dos jornais diminuiu, algumas revistas importantes estão fechando, estão enfrentando crise. Eu acho que a Internet realmente é o futuro. Para a minha geração não, como eu te disse, que a gente ainda insiste em ser informado pelo meio impresso. Mas para a sua geração, eu acho que não vai ter tanta importância como foi para a minha.

  • E em relação a fake news, como ela prejudica o jornalismo? Como combater esse fenômeno?

HENNING: O meio eletrônico, no caso das redes sociais, todo mundo se acha jornalista. E esquecendo que nós somos profissionais, sabe, a gente passou um tempo no aprendizado para saber o que é importante e o que é errado, e saber, enfim, o que é notícia. Então fake news é uma coisa complicada, e eu acho que está aparecendo cada vez mais. Não tenho uma receita para combater fake news, sinceramente. Eu sou meio preguiçoso para pensar nisso.

  • Você não é formado em jornalismo, mas tem o registro. Você acha necessária essa formação acadêmica?

HENNING: Eu acho. Eu acho completamente necessário. Você tem que ter uma formação intelectual suficiente para exercer essa profissão. Eu acho que é importante. Mas o curso de jornalismo em si, talvez nem seja importante. Um bom médico pode também se tornar um bom jornalista, né. Um bom advogado. Os cursos… foi o que eu te falei. Na minha época, se estudava Filosofia, e saía daí e ia direto para a profissão. A faculdade de Direito te dava muito conhecimento. Agora, a formação acadêmica é absolutamente necessária.

  • O jornalismo hoje em dia é desvalorizado?

HENNING: Não, sinceramente não. Eu acho que um país em crise, como Brasil, em crise da economia, e também politicamente falando, todas as profissões acabam… né, eu vejo que os salários são baixos, principalmente no interior desse Brasil. São poucos os jornalistas que ganham bem. A televisão foi um meio que veio trazer salários maiores. O rádio infelizmente não acompanha. Mas isso nas grandes cidades, nos grandes centros. Eu acho que a profissão é muito mal paga, e isso continua.

  • Tem algum conselho para os estudantes do curso?

HENNING: Pensem bem antes de adotar nossa profissão. Hoje em dia está cada vez mais difícil no mercado de trabalho. Eu, quando cheguei aqui em Guarulhos, uma semana depois de ter chegado, eu já estava trabalhando. Hoje eu vejo meus filhos, que, para eles, foi supercomplicado começar a trabalhar, e a sua geração está enfrentando essa dificuldade. Mas a vocação é uma coisa que a gente não pode medir.

  • Diria então que não tem o mesmo entusiasmo do começo da profissão?

HENNING: É, a juventude lhe dá muito entusiasmo, sabe. Depois de uma certa idade… eu gosto de escrever, voltar a imprensa escrita. Mas… eu não sei. Eu estou muito dividido. Eu gosto de criar cavalos hoje. (Hermano hoje é dono de um haras, na cidade de Cesário Lange, SP)

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Caroline Campos

Praticando o jornalismo desde 2019 — ou, até então, tentando.