Quanto vale um bioma?

Caroline Campos
3 min readSep 10, 2020
Foto: Lalo de Almeida

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro exalta o gigante pela própria natureza pós-indepedência, o Pantanal arde em chamas. Acostumados a se importar apenas com as onças-pintadas das notas de R$ 50, o presidente e sua trupe — menção desonrosa a Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente — gargalham às custas da destruição de um dos biomas mais biodiversos do mundo.

De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram mais de 10.000 focos de incêndio só de janeiro pra cá. Cerca de 12% da região já foi destruída, o equivalente a 12 cidades de São Paulo. Os animais morrem esturricados e desfigurados em beiras de estradas, na tentativa de fugir das garras incansáveis do fogo. Comunidades indígenas e quilombolas perdem toda a plantação, levando seus habitantes a procurarem abrigo em outras regiões.

A fauna e a flora gritam socorro, mas a atmosfera já alaranjada os engole. Jaguatiricas, araras-azuis, tuiuiús, antas — o Pantanal abriga aproximadamente 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos. Nada do que está acontecendo é natural, é tudo resultado da ação humana. Crime. “Queima de pasto, fogo em raízes de árvore para retirar mel de abelha e incêndios em máquina agrícola e em veículo”, afirma a perícia feita pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT).

Mas e a fiscalização? Desde antes da presidência, Bolsonaro, que em 2012 foi multado em R$ 10 mil por pesca ilegal, já acenava a um futuro desmonte da política ambiental. Eleito, militarizou a diretoria do ICMBio, atacou o trabalho dos fiscais do Ibama e descreditou ONGs publicamente. Para um governo tão próximo dos ruralistas e latifundiários, as ONGs ambientais são um “câncer” difícil de matar. A principal causa da expansão do desmatamento em uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta é o agronegócio, que, também, utiliza a prática do fogo.

Foto: Gustavo Basso

Não que esperássemos muito de um ministro do Meio Ambiente apoiado por entidades ruralistas e condenado por improbidade administrativa, depois de manipular mapas do Plano de Manejo da Várzea do Rio Tietê, quando era Secretário do Meio Ambiente de São Paulo. Duas semanas depois da condenação, foi nomeado ministro por Jair Bolsonaro. Grileiros, garimpeiros e madeireiros comemoram.

Mas até quando Bolsonaro vai continuar com a balela patriota de nossos bosques têm mais vida se a vida está sendo dizimada por sua ineficiência? Afinal, o problema não é apenas o Pantanal: a Amazônia, que dá vida aos biomas ao seu redor através de seus “rios voadores”, também sofre descaradamente com as queimadas e o desmatamento ilegal. No entanto, para a chefia do país, é mais fácil culpar os “eco-xiitas” e a “perseguição ideológica” que sofre. Se a devastação ambiental não terminar, logo o gado ficará sem alimento. Aí, o calo do presidente vai apertar.

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Caroline Campos

Praticando o jornalismo desde 2019 — ou, até então, tentando.